O projecto de edição e transcrição das Memórias Paroquiais de 1758
The project of edition and transcription of the Parochial Memories of 1758
Descrição do Projecto
Project description
1. Em 1 de Novembro de 2005 completaram-se, precisamente, duzentos e cinquenta anos sobre o terrível abalo telúrico que assolou e destruiu a capital portuguesa. Esta manifestação da natureza fez correr «rios de tinta» por toda a Europa, despertando o interesse dos principais pensadores da época. Basta lembrar os escritos que Voltaire e Kant lhe dedicaram.
A destruição de parte significativa de Lisboa teve várias consequências. Uma das principais foi a grande perda das respostas ao inquérito manuscrito que o padre Luís Cardoso havia recebido e ordenado alfabeticamente por freguesias. Não só este motivo, mas também porque o cataclismo deixara marcas no País, era necessário proceder a um novo e mais completo inquérito para conhecer, pormenorizadamente, a novel realidade.
Deste modo, pode afirmar-se que as Memórias Paroquiais de 1758 são uma consequência do terramoto de 1755.
Documento pragmático por excelência, pois contém informações directas e precisas sobre o «Estado do Reino» volvidos três anos sobre a destruição provocada pelo violento sismo. O conjunto das «Memórias» reflecte aspectos importantes da sociedade portuguesa, em especial as relações entre o sistema administrativo central e as múltiplas periferias, transformadas em vilas, freguesias e lugares, que compõem o reino. Traduz de uma forma precisa o peso que esse «Centro» tem no reino; denominador comum das instituições locais, embora, como sabemos, não se possa falar, pelo menos ao longo deste século XVIII, da existência de um «governo», pelo menos no sentido moderno que lhe atribuímos.
Do que hoje sabemos o poder municipal era discreto. Em todos os aspectos a sua influência era bastante diminuta. Rendimentos parcos levavam a quase nenhuma influência perante a Coroa, que amiúdes vezes desviava dinheiro dos impostos centrais para necessidades evidentes das pequenas localidades. Muita da sua pouca expressão passa, também, pela inexistência de documentos ao nível local. Ausência essa, muitas vezes atribuída ao impacto físico do terremoto. Por volta de 1758 os rendimentos locais eram muito parcos, as receitas das pequenas câmaras eram quase inexistentes e quando as dificuldades financeiras se declaravam, a pressão tributária incidia com mais força sobre as populações, em especial as freguesias rurais. Numa altura em que os povos, através dos seus representantes, solicitavam auxílio ao poder central através de petições, o conteúdo expresso nas «Memórias» possibilita aos funcionários do Poder central uma avaliação mais concreta do verdadeiro «estado da nação».
Aspectos determinantes relacionados com este tão importante questionário são os que se prendem, em primeiro lugar, com os destinatários, ou seja os párocos das freguesias do reino. São homens que sabem ler e escrever, uma preciosidade naqueles tempos, e cujo distanciamento das esferas políticas lhes permite manter uma objectividade directa e concreta nas respostas apresentadas, embora com uma ou outra excepção. Em segundo lugar, o sistema central evita as respostas dos representantes locais e o conseguinte «terreno pantanoso» dos interesses específicos de cada uma das freguesias, quer a nível colectivo, oligárquico, ou até o dos funcionários centrais ali destacados, deixando a uma instituição mais «isenta», embora muitas vezes em conflito aberto com o poder maior, a resposta à informação solicitada.
2. Após a assinatura do tratado de paz, firmado com França em 11 de Abril de 1713, e em 6 de Fevereiro de 1715, com Espanha, o monarca passou a dispor de condições para concentrar a sua acção governativa ao nível interno. As mutações ocorridas ao nível político-administrativo, bem como ao nível financeiro, no final do século XVII, facilitaram a consolidação do absolutismo em Portugal.
D. João V, como qualquer soberano absoluto, deveria conhecer em profundidade o espaço sob a sua jurisdição. Por isso, incumbiu a Academia Real da História Portuguesa, criada pelo decreto de 8 de Dezembro de 1720, de escrever «a História Eclesiástica com o título de Lusitania Sacra, e depois tudo o mais que pertencesse à secular». No ano seguinte, a Academia dirigiu o seu pedido de informações aos arcebispos, bispos e demais autoridades religiosas e civis. Cremos que a maior parte não respondeu; porém, no que concerne às autoridades religiosas, conhecem-se as respostas dos cabidos de Coimbra, de Leiria e de Elvas.
Novo inquérito foi enviado em 1732 às autoridades religiosas. A Secretaria de Estado tentava conhecer o Reino, procedendo a novo inquérito. Pretendia-se elaborar um dicionário, onde facilmente se encontrassem os elementos caracterizadores de cada freguesia. Tal como refere José Viriato Capela, «os inquéritos de 1732 se têm muitas afinidades com as tarefas que a Monarquia impôs à Academia, a partir da sua configuração paroquial ganham um objectivo moderno e prospecção dos recursos e potencialidades das terras, da sua geografia física e económica, sua população e distribuição social com vista a objectivos mais concretos e imediatos da governação política e territorial». Isto é, estão «ineludivemente ligados com os progressos gerais do Estado e da Administração pública da 1ª metade de setecentos que em Portugal que em Portugal se exprime, nas coordenadas da governação de D. João V, pelo esforço de instalar um Estado e um Governo Absoluto que pretende realizar os meios e as condições para um maior conhecimento e logo para um superior domínio, controlo e governo do território».
Todavia, o terramoto de 1755 não só fez desaparecer a maior parte das informações (respostas ao inquérito anterior), como também transformou a realidade do País. Era necessário conhecer a nova realidade. Para o efeito, D. José I, como soberano iluminado, através do seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, via Secretaria de Estado dos Negócios Interiores do Reino, em Janeiro de 1756, remeteu outro inquérito às autoridades eclesiásticas com o intuito não só de averiguar os estragos causados pelo cataclismo do 10 de Novembro do ano anterior, mas também porque desejava ter uma verdadeira «radiografia» do reino.
3. Existem muitas publicações das Memórias Paroquiais de 1758, sobre um amplo número de freguesias, que com este tipo de edição vão comemorando factos essenciais da sua história. Porém, são edições dispersas e de cariz local. Não existe um trabalho sistemático de publicação ordenada das Memórias, além do que tinha sido feito pelo padre Luís Cardoso, que as organizou alfabeticamente e indexou sumariamente. Com uma breve nota introdutória serviu, esta compilação, como guia de consulta a várias gerações de investigadores. Merecem particularmente referência os trabalhos de José Viriato Capela, pois são excepção a este postulado, já que publicou as Memórias da Província de Entre-Douro-e-Minho. Também o Archeologo Português transcreveu brevíssimos «extractos» dos primeiros oito volumes. Tal como se refere, Pedro de Azevedo limitou-se a pequenas citações das partes que se reportavam aos elementos arqueológicos conhecidos dos priores das freguesias.
E, contudo, as Memórias são, para o século XVIII, o maior levantamento histórico-geográfico alguma vez feito no nosso país. Nelas se resume o «estado da nação» três anos volvidos sobre a destruição provocada pelo terramoto. Vitorino Magalhães Godinho defendia, inclusivamente, como tarefa programática a publicação integral destas Memórias, «porquanto se trata da mais importante fonte de conjunto do país da história portuguesa».
4. No questionário enviado em 1756, encontra-se um amplo e multifacetado leque de perguntas, sobre temas muito díspares, como por exemplo meio natural, quadro político-administrativo, população, vida económica e instituições religiosas. Este questionário é constituído por três subgrupos de questões. O primeiro contém 27 questões de ordem genérica; o segundo é composto por 13 perguntas sobre as serras, e o terceiro inclui 20 sobre os rios.
Desde logo é perceptível que este questionário é diferente dos anteriores. Não só contém mais itens, mas também é mais abrangente no plano temático. Por exemplo, na 1.ª parte, pergunta explicitamente (questão 26.ª): «Se padeceu alguma ruína no Terramoto de 1755, e em que, e se está reparada?». Nele são escalpelizadas áreas espaciais até então omissas. O espaço já é entendido como um elemento de poder, enquanto nos inquéritos anteriores se sobrevalorizam elementos de natureza e conexão religiosa.
A destruição de parte significativa de Lisboa teve várias consequências. Uma das principais foi a grande perda das respostas ao inquérito manuscrito que o padre Luís Cardoso havia recebido e ordenado alfabeticamente por freguesias. Não só este motivo, mas também porque o cataclismo deixara marcas no País, era necessário proceder a um novo e mais completo inquérito para conhecer, pormenorizadamente, a novel realidade.
Deste modo, pode afirmar-se que as Memórias Paroquiais de 1758 são uma consequência do terramoto de 1755.
Documento pragmático por excelência, pois contém informações directas e precisas sobre o «Estado do Reino» volvidos três anos sobre a destruição provocada pelo violento sismo. O conjunto das «Memórias» reflecte aspectos importantes da sociedade portuguesa, em especial as relações entre o sistema administrativo central e as múltiplas periferias, transformadas em vilas, freguesias e lugares, que compõem o reino. Traduz de uma forma precisa o peso que esse «Centro» tem no reino; denominador comum das instituições locais, embora, como sabemos, não se possa falar, pelo menos ao longo deste século XVIII, da existência de um «governo», pelo menos no sentido moderno que lhe atribuímos.
Do que hoje sabemos o poder municipal era discreto. Em todos os aspectos a sua influência era bastante diminuta. Rendimentos parcos levavam a quase nenhuma influência perante a Coroa, que amiúdes vezes desviava dinheiro dos impostos centrais para necessidades evidentes das pequenas localidades. Muita da sua pouca expressão passa, também, pela inexistência de documentos ao nível local. Ausência essa, muitas vezes atribuída ao impacto físico do terremoto. Por volta de 1758 os rendimentos locais eram muito parcos, as receitas das pequenas câmaras eram quase inexistentes e quando as dificuldades financeiras se declaravam, a pressão tributária incidia com mais força sobre as populações, em especial as freguesias rurais. Numa altura em que os povos, através dos seus representantes, solicitavam auxílio ao poder central através de petições, o conteúdo expresso nas «Memórias» possibilita aos funcionários do Poder central uma avaliação mais concreta do verdadeiro «estado da nação».
Aspectos determinantes relacionados com este tão importante questionário são os que se prendem, em primeiro lugar, com os destinatários, ou seja os párocos das freguesias do reino. São homens que sabem ler e escrever, uma preciosidade naqueles tempos, e cujo distanciamento das esferas políticas lhes permite manter uma objectividade directa e concreta nas respostas apresentadas, embora com uma ou outra excepção. Em segundo lugar, o sistema central evita as respostas dos representantes locais e o conseguinte «terreno pantanoso» dos interesses específicos de cada uma das freguesias, quer a nível colectivo, oligárquico, ou até o dos funcionários centrais ali destacados, deixando a uma instituição mais «isenta», embora muitas vezes em conflito aberto com o poder maior, a resposta à informação solicitada.
2. Após a assinatura do tratado de paz, firmado com França em 11 de Abril de 1713, e em 6 de Fevereiro de 1715, com Espanha, o monarca passou a dispor de condições para concentrar a sua acção governativa ao nível interno. As mutações ocorridas ao nível político-administrativo, bem como ao nível financeiro, no final do século XVII, facilitaram a consolidação do absolutismo em Portugal.
D. João V, como qualquer soberano absoluto, deveria conhecer em profundidade o espaço sob a sua jurisdição. Por isso, incumbiu a Academia Real da História Portuguesa, criada pelo decreto de 8 de Dezembro de 1720, de escrever «a História Eclesiástica com o título de Lusitania Sacra, e depois tudo o mais que pertencesse à secular». No ano seguinte, a Academia dirigiu o seu pedido de informações aos arcebispos, bispos e demais autoridades religiosas e civis. Cremos que a maior parte não respondeu; porém, no que concerne às autoridades religiosas, conhecem-se as respostas dos cabidos de Coimbra, de Leiria e de Elvas.
Novo inquérito foi enviado em 1732 às autoridades religiosas. A Secretaria de Estado tentava conhecer o Reino, procedendo a novo inquérito. Pretendia-se elaborar um dicionário, onde facilmente se encontrassem os elementos caracterizadores de cada freguesia. Tal como refere José Viriato Capela, «os inquéritos de 1732 se têm muitas afinidades com as tarefas que a Monarquia impôs à Academia, a partir da sua configuração paroquial ganham um objectivo moderno e prospecção dos recursos e potencialidades das terras, da sua geografia física e económica, sua população e distribuição social com vista a objectivos mais concretos e imediatos da governação política e territorial». Isto é, estão «ineludivemente ligados com os progressos gerais do Estado e da Administração pública da 1ª metade de setecentos que em Portugal que em Portugal se exprime, nas coordenadas da governação de D. João V, pelo esforço de instalar um Estado e um Governo Absoluto que pretende realizar os meios e as condições para um maior conhecimento e logo para um superior domínio, controlo e governo do território».
Todavia, o terramoto de 1755 não só fez desaparecer a maior parte das informações (respostas ao inquérito anterior), como também transformou a realidade do País. Era necessário conhecer a nova realidade. Para o efeito, D. José I, como soberano iluminado, através do seu ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, via Secretaria de Estado dos Negócios Interiores do Reino, em Janeiro de 1756, remeteu outro inquérito às autoridades eclesiásticas com o intuito não só de averiguar os estragos causados pelo cataclismo do 10 de Novembro do ano anterior, mas também porque desejava ter uma verdadeira «radiografia» do reino.
3. Existem muitas publicações das Memórias Paroquiais de 1758, sobre um amplo número de freguesias, que com este tipo de edição vão comemorando factos essenciais da sua história. Porém, são edições dispersas e de cariz local. Não existe um trabalho sistemático de publicação ordenada das Memórias, além do que tinha sido feito pelo padre Luís Cardoso, que as organizou alfabeticamente e indexou sumariamente. Com uma breve nota introdutória serviu, esta compilação, como guia de consulta a várias gerações de investigadores. Merecem particularmente referência os trabalhos de José Viriato Capela, pois são excepção a este postulado, já que publicou as Memórias da Província de Entre-Douro-e-Minho. Também o Archeologo Português transcreveu brevíssimos «extractos» dos primeiros oito volumes. Tal como se refere, Pedro de Azevedo limitou-se a pequenas citações das partes que se reportavam aos elementos arqueológicos conhecidos dos priores das freguesias.
E, contudo, as Memórias são, para o século XVIII, o maior levantamento histórico-geográfico alguma vez feito no nosso país. Nelas se resume o «estado da nação» três anos volvidos sobre a destruição provocada pelo terramoto. Vitorino Magalhães Godinho defendia, inclusivamente, como tarefa programática a publicação integral destas Memórias, «porquanto se trata da mais importante fonte de conjunto do país da história portuguesa».
4. No questionário enviado em 1756, encontra-se um amplo e multifacetado leque de perguntas, sobre temas muito díspares, como por exemplo meio natural, quadro político-administrativo, população, vida económica e instituições religiosas. Este questionário é constituído por três subgrupos de questões. O primeiro contém 27 questões de ordem genérica; o segundo é composto por 13 perguntas sobre as serras, e o terceiro inclui 20 sobre os rios.
Desde logo é perceptível que este questionário é diferente dos anteriores. Não só contém mais itens, mas também é mais abrangente no plano temático. Por exemplo, na 1.ª parte, pergunta explicitamente (questão 26.ª): «Se padeceu alguma ruína no Terramoto de 1755, e em que, e se está reparada?». Nele são escalpelizadas áreas espaciais até então omissas. O espaço já é entendido como um elemento de poder, enquanto nos inquéritos anteriores se sobrevalorizam elementos de natureza e conexão religiosa.
Equipa de Investigação
Research Team
Investigador responsável / Principal Investigator: João Cosme (ULisboa)
Equipa de Investigação / Research Team: João Cosme (ULisboa), José Varandas (ULisboa)
Equipa de Investigação / Research Team: João Cosme (ULisboa), José Varandas (ULisboa)
Regras de Transcrição
Transcription criteria
Com vista a um maior rigor crítico, de maneira a se poder obter toda a informação de carácter linguístico e histórico, optámos pelas seguintes normas de transcrição:
a) Desenvolveram-se as abreviaturas. O til das Abreviaturas foi desdobrado em m ou n, excepto em hũa e algũa, onde se manteve. Também se mantiveram as abreviaturas dos numerais.
b) Actualizou-se o emprego das maiúsculas e minúsculas.
c) Actualizou-se o emprego do i e do j, do u e do v, do c e do ç; todavia, mantivemos o j quando tem valor de numeral.
d) A pontuação foi discretamente actualizada para uma melhor compreensão do texto.
e) Usou-se o apóstrofo. Separaram-se as palavras que se encontravam unidas e reuniram-se as sílabas dispersas.
f) Mantiveram-se as grafias dos antropónimos, topónimos e as formas dos numerais.
g) As mudanças de fólio vão referidas entre barras / ... /;
h) Os números, as sílabas e as palavras omissas que acrescentámos ao texto vão entre parênteses rectos [...];
i) As assinaturas foram precedidas da abreviatura as), referente à palavra (assinado);
j) No caso das palavras homógrafas, para uma mais fácil compreensão do texto, colocámos acento naquelas em que pertence. Como por exemplo nos seguintes casos:
- Esta: pode ser pronome ou verbo, quando é verbo colocámos o acento, ficando está;
- He: pode ser verbo ou preposição; quando tem valor verbal apusemos-lhe o acento, ficando hé.
a) Desenvolveram-se as abreviaturas. O til das Abreviaturas foi desdobrado em m ou n, excepto em hũa e algũa, onde se manteve. Também se mantiveram as abreviaturas dos numerais.
b) Actualizou-se o emprego das maiúsculas e minúsculas.
c) Actualizou-se o emprego do i e do j, do u e do v, do c e do ç; todavia, mantivemos o j quando tem valor de numeral.
d) A pontuação foi discretamente actualizada para uma melhor compreensão do texto.
e) Usou-se o apóstrofo. Separaram-se as palavras que se encontravam unidas e reuniram-se as sílabas dispersas.
f) Mantiveram-se as grafias dos antropónimos, topónimos e as formas dos numerais.
g) As mudanças de fólio vão referidas entre barras / ... /;
h) Os números, as sílabas e as palavras omissas que acrescentámos ao texto vão entre parênteses rectos [...];
i) As assinaturas foram precedidas da abreviatura as), referente à palavra (assinado);
j) No caso das palavras homógrafas, para uma mais fácil compreensão do texto, colocámos acento naquelas em que pertence. Como por exemplo nos seguintes casos:
- Esta: pode ser pronome ou verbo, quando é verbo colocámos o acento, ficando está;
- He: pode ser verbo ou preposição; quando tem valor verbal apusemos-lhe o acento, ficando hé.
Volumes já publicados
Published volumes
Volume VIII: no prelo.
Resultados e recursos do projecto
Project output and resources
Prefácio à nova edição:
Evocação do Padre Luís Cardoso e de um equívoco
A 3 de Julho de 1769 – completam-se agora 240 anos – morria o padre Luís Cardoso, da Congregação do Oratório de São Filipe Nery, membro da Academia Real de História e cronista da Gazeta de Lisboa. Foi autor, com o pseudónimo de «Paulo Dias de Niza» de Portugal Sacro-Profano, ou catálogo alfabético de todas as freguesias do reino de Portugal e Algarve, seus oragos, título dos párocos, e anual rendimento de cada uma (Lisboa, na Oficina de Miguel Menescal da Costa, 3 volumes, 1767 e 1768). Esta obra, muito datada, seguiu-se a uma outra que consagrou o seu autor: o célebre Dicionário Geográfico ou notícia histórica de todas as cidades, vilas, lugares e aldeias, rios, ribeiras e serras dos reinos de Portugal e Algarve (…), (Lisboa, na Régia Oficina Silviana, 1747 e 1752, dois tomos), que contempla apenas as letras A a C.
Inocêncio Francisco da Silva, no seu benemérito Dicionário Bibliográfico Português dá notícia daquele autor e dos seus escritos, acrescentando: «com o segundo tomo se interrompeu a publicação desta importante obra, que contém notícias minuciosas, ainda que às vezes escritas com falta de boa crítica, porém geralmente interessantes e fruto de longas investigações feitas nas próprias localidades, muitas delas fornecidas pelos respectivos párocos e magistrados. O autor a deixou concluída, e a parte manuscrita existe ainda inédita, segundo se afirma no Arquivo Nacional, onde há sido consultada por alguns estudiosos» (in Inocêncio Francisco da Silva, Dicionário Bibliográfico Português, tomo V, Lisboa, Imprensa Nacional, 1860, p. 279).
Estas palavras acabaram por causar uma certa confusão e contribuíram para a criação de equívocos. Leite de Vasconcelos tomou como boas as informações de Inocêncio e, num artigo publicado na revista O Arqueólogo Português, refere que se serviu de alguns relatórios de párocos, escritos em 1758, constatando porém que Cardoso não os tinha utilizado quando escreveu o seu Dicionário Geográfico (José Leite de Vasconcelos, «Notícias e Antigualhas da Terra de Miranda no Século XVIII», in O Arqueólogo Português, 1.ª série, vol. 1, 1895, p. 11). Confiando em Inocêncio, Vasconcelos acreditava que tais relatórios também tinham servido de base ao padre Cardoso mas que este os tinha deixado inéditos na sua grande maioria. Sucede que as fontes utilizadas por Luís Cardoso foram, como ele próprio confessa na Prólogo do Dicionário, a Corografia Portuguesa, do padre António Carvalho da Costa (1.ª edição em 1706, com numeras reedições posteriores), reconhecendo ter sido de escassa utilidade dadas as imprecisões e erros, e as informações pedidas, em 5 de Janeiro de 1721, pelos responsáveis da Academia Real de História, recentemente fundada, dirigidas a todas as autoridades do Reino, assim como às Câmaras e aos Provedores das Comarcas. Num minucioso questionário impresso, eram solicitadas notícias de tudo o que as paróquias possuíssem com interesse, tendo em vista a elaboração de uma História Eclesiástica e Secular de Portugal e suas conquistas, objectivo exposto como objectivo fulcral da Academia. Por isso, o corpus do qual saiu o Dicionário Geográfico nada teve a ver, até por anacronismo cronológico – os dois volumes saíram em 1747 e 1752 – com as memórias paroquiais de 1758.
Pedro de Azevedo apressou-se a esclarecer, também nas páginas de O Arqueólogo Português: «O Dicionário Geográfico do Reino de Portugal que o erudito e infatigável Padre Luís Cardoso, da Congregação do Oratório de Lisboa, tinha composto sobre as memórias que os párocos do Reino enviaram por ordem superior, à Secretaria de Estado, perdeu-se miseravelmente nas ruínas do terramoto do 1755, escapando, apenas, as letras A a C do primeiro e segundo volumes, por estarem já impressos e distribuídos par partes aonde não chegou o estrago.
Com este fim pediu novamente, instou e conseguiu da Secretaria do grande e Respeitável Sebastião José de Carvalho ordem para que os Párocos do Reino enviassem novas Descrições das suas Freguesias com aquelas escrupulosas e circunstanciadas miudezas que mais abaixo constarão da cópia dos interrogatórios que, impressos, lhes foram enviados, com o preceito de responderem. Preceito que a maior parte dos Párocos cumpriu no mesmo ano de 1758, em que lhes foi intimado; não quis porém aproveitar-se o padre Cardoso destas participações. Não quis, ou não pôde porque as enfermidades, ou a velhice, ou o pressentimento da morte, ou tudo junto fez, que o P. Cardoso olhasse como impossível a execução do seu Projecto: e assim, por sua morte, em 1769, ficaram em montão confuso, mas bem guardado, todas as descrições que lhe tinham sido enviadas – guardadas até agora, em que um padre da mesma Congregação do Oratório e Casa das Necessidades, zeloso da utilidade, e instrução pública, as fez arranjar em forma de Dicionário e mandou encadernar em 44 volumes de fólio, incluso estes índices, para na Biblioteca da mesma Casa estarem patentes à instrução, utilidade e curiosidade dos portugueses. Pelo que fica dito se vê que não é exacto o que Inocêncio diz. É certo que o seu valioso trabalho foi feito sobre relações paroquiais, mas elaboradas elas muito antes de 1747, que é a data em que o 1.º volume apareceu, foram destruídas pelo terramoto de 1755. As relações conservadas na Torre são datadas de 1758; basta a enunciação desta data para tirar qualquer dúvida» (Pedro A. de Azevedo, «O Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso», in O Arqueólogo Português, 1.ª série, vol. 1, 1895, p. 267).
Dissipadas as dúvidas, centremo-nos nas Memórias Paroquiais pombalinas de 1758 que tiveram também como objectivo fazer um levantamento nacional dos estragos provocados pelo grande sismo de 1755. Elas constituem um precioso retrato do Portugal de meados do século XVIII, embora as respostas sejam muito desequilibradas, dependendo da cultura, do interesse e da dedicação dos párocos. A par de respostas longas, circunstanciadas e bem redigidas, encontramos outras muito sintéticas, produzidas apressadamente para dar cumprimento a uma solicitação. Ao longo do tempo estas memórias têm sido publicadas, ou localmente, ou regionalmente.
Tem todo o sentido a sua edição sistemática e coerente, seguindo um critério alfabético, como se de um novo dicionário geográfico se tratasse, e por isso o Centro de História da Universidade de Lisboa associa-se a este projecto, que agora principia com este volume. Na sua dedicatória a D. João V, o padre Luís Cardoso escrevia: «o Direito manda dar a cada um o que é seu». Nada mais certo. Também neste caso todo o mérito vai para os dois investigadores, os Doutores João Cosme e José Varandas, que organizaram a presente edição, colocando à disposição do público mais especializado mas também de todos aqueles que se interessam pela História Pátria, esse filão precioso que são as memórias paroquiais de 1758.
António Ventura
Professor Catedrático
Director do Centro de História da Universidade de Lisboa (2007-2011)
Evocação do Padre Luís Cardoso e de um equívoco
A 3 de Julho de 1769 – completam-se agora 240 anos – morria o padre Luís Cardoso, da Congregação do Oratório de São Filipe Nery, membro da Academia Real de História e cronista da Gazeta de Lisboa. Foi autor, com o pseudónimo de «Paulo Dias de Niza» de Portugal Sacro-Profano, ou catálogo alfabético de todas as freguesias do reino de Portugal e Algarve, seus oragos, título dos párocos, e anual rendimento de cada uma (Lisboa, na Oficina de Miguel Menescal da Costa, 3 volumes, 1767 e 1768). Esta obra, muito datada, seguiu-se a uma outra que consagrou o seu autor: o célebre Dicionário Geográfico ou notícia histórica de todas as cidades, vilas, lugares e aldeias, rios, ribeiras e serras dos reinos de Portugal e Algarve (…), (Lisboa, na Régia Oficina Silviana, 1747 e 1752, dois tomos), que contempla apenas as letras A a C.
Inocêncio Francisco da Silva, no seu benemérito Dicionário Bibliográfico Português dá notícia daquele autor e dos seus escritos, acrescentando: «com o segundo tomo se interrompeu a publicação desta importante obra, que contém notícias minuciosas, ainda que às vezes escritas com falta de boa crítica, porém geralmente interessantes e fruto de longas investigações feitas nas próprias localidades, muitas delas fornecidas pelos respectivos párocos e magistrados. O autor a deixou concluída, e a parte manuscrita existe ainda inédita, segundo se afirma no Arquivo Nacional, onde há sido consultada por alguns estudiosos» (in Inocêncio Francisco da Silva, Dicionário Bibliográfico Português, tomo V, Lisboa, Imprensa Nacional, 1860, p. 279).
Estas palavras acabaram por causar uma certa confusão e contribuíram para a criação de equívocos. Leite de Vasconcelos tomou como boas as informações de Inocêncio e, num artigo publicado na revista O Arqueólogo Português, refere que se serviu de alguns relatórios de párocos, escritos em 1758, constatando porém que Cardoso não os tinha utilizado quando escreveu o seu Dicionário Geográfico (José Leite de Vasconcelos, «Notícias e Antigualhas da Terra de Miranda no Século XVIII», in O Arqueólogo Português, 1.ª série, vol. 1, 1895, p. 11). Confiando em Inocêncio, Vasconcelos acreditava que tais relatórios também tinham servido de base ao padre Cardoso mas que este os tinha deixado inéditos na sua grande maioria. Sucede que as fontes utilizadas por Luís Cardoso foram, como ele próprio confessa na Prólogo do Dicionário, a Corografia Portuguesa, do padre António Carvalho da Costa (1.ª edição em 1706, com numeras reedições posteriores), reconhecendo ter sido de escassa utilidade dadas as imprecisões e erros, e as informações pedidas, em 5 de Janeiro de 1721, pelos responsáveis da Academia Real de História, recentemente fundada, dirigidas a todas as autoridades do Reino, assim como às Câmaras e aos Provedores das Comarcas. Num minucioso questionário impresso, eram solicitadas notícias de tudo o que as paróquias possuíssem com interesse, tendo em vista a elaboração de uma História Eclesiástica e Secular de Portugal e suas conquistas, objectivo exposto como objectivo fulcral da Academia. Por isso, o corpus do qual saiu o Dicionário Geográfico nada teve a ver, até por anacronismo cronológico – os dois volumes saíram em 1747 e 1752 – com as memórias paroquiais de 1758.
Pedro de Azevedo apressou-se a esclarecer, também nas páginas de O Arqueólogo Português: «O Dicionário Geográfico do Reino de Portugal que o erudito e infatigável Padre Luís Cardoso, da Congregação do Oratório de Lisboa, tinha composto sobre as memórias que os párocos do Reino enviaram por ordem superior, à Secretaria de Estado, perdeu-se miseravelmente nas ruínas do terramoto do 1755, escapando, apenas, as letras A a C do primeiro e segundo volumes, por estarem já impressos e distribuídos par partes aonde não chegou o estrago.
Com este fim pediu novamente, instou e conseguiu da Secretaria do grande e Respeitável Sebastião José de Carvalho ordem para que os Párocos do Reino enviassem novas Descrições das suas Freguesias com aquelas escrupulosas e circunstanciadas miudezas que mais abaixo constarão da cópia dos interrogatórios que, impressos, lhes foram enviados, com o preceito de responderem. Preceito que a maior parte dos Párocos cumpriu no mesmo ano de 1758, em que lhes foi intimado; não quis porém aproveitar-se o padre Cardoso destas participações. Não quis, ou não pôde porque as enfermidades, ou a velhice, ou o pressentimento da morte, ou tudo junto fez, que o P. Cardoso olhasse como impossível a execução do seu Projecto: e assim, por sua morte, em 1769, ficaram em montão confuso, mas bem guardado, todas as descrições que lhe tinham sido enviadas – guardadas até agora, em que um padre da mesma Congregação do Oratório e Casa das Necessidades, zeloso da utilidade, e instrução pública, as fez arranjar em forma de Dicionário e mandou encadernar em 44 volumes de fólio, incluso estes índices, para na Biblioteca da mesma Casa estarem patentes à instrução, utilidade e curiosidade dos portugueses. Pelo que fica dito se vê que não é exacto o que Inocêncio diz. É certo que o seu valioso trabalho foi feito sobre relações paroquiais, mas elaboradas elas muito antes de 1747, que é a data em que o 1.º volume apareceu, foram destruídas pelo terramoto de 1755. As relações conservadas na Torre são datadas de 1758; basta a enunciação desta data para tirar qualquer dúvida» (Pedro A. de Azevedo, «O Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso», in O Arqueólogo Português, 1.ª série, vol. 1, 1895, p. 267).
Dissipadas as dúvidas, centremo-nos nas Memórias Paroquiais pombalinas de 1758 que tiveram também como objectivo fazer um levantamento nacional dos estragos provocados pelo grande sismo de 1755. Elas constituem um precioso retrato do Portugal de meados do século XVIII, embora as respostas sejam muito desequilibradas, dependendo da cultura, do interesse e da dedicação dos párocos. A par de respostas longas, circunstanciadas e bem redigidas, encontramos outras muito sintéticas, produzidas apressadamente para dar cumprimento a uma solicitação. Ao longo do tempo estas memórias têm sido publicadas, ou localmente, ou regionalmente.
Tem todo o sentido a sua edição sistemática e coerente, seguindo um critério alfabético, como se de um novo dicionário geográfico se tratasse, e por isso o Centro de História da Universidade de Lisboa associa-se a este projecto, que agora principia com este volume. Na sua dedicatória a D. João V, o padre Luís Cardoso escrevia: «o Direito manda dar a cada um o que é seu». Nada mais certo. Também neste caso todo o mérito vai para os dois investigadores, os Doutores João Cosme e José Varandas, que organizaram a presente edição, colocando à disposição do público mais especializado mas também de todos aqueles que se interessam pela História Pátria, esse filão precioso que são as memórias paroquiais de 1758.
António Ventura
Professor Catedrático
Director do Centro de História da Universidade de Lisboa (2007-2011)
Interrogatório enviado aos párocos depois do Terramoto de 1755:
I - O que se procura saber dessa terra é o seguinte:
(Venha tudo escrito em letra legível e sem breves)
1.º Em que província fica, a que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?
2.º Se é d' el-rei, ou de donatário, e quem o é ao presente?
3.º Quantos vizinhos tem [e o número das pessoas]?
4.º Se está situada em campina, vale, ou monte, e que povoações se descobrem dela, e quanto dista?
5.º Se tem termo seu, que lugares, ou aldeias comprehende, como se chamam, e quantos vizinhos tem?
6.º Se a Paróquia está fora do lugar, ou dentro dele, e quantos lugares, ou aldeias tem a freguesia, todos pelos seus nomes?
7.º Qual é o seu orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem Irmandades, quantas, e de que santos?
8.º Se o Pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação é, e que renda tem?
9.º Se tem beneficiados, quantos, e que renda tem, e quem os apresenta?
10.º Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus padroeiros?
11.º Se tem hospital quem o administra, e que renda tem?
12.º Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que houver notável em qualquer destas cousas?
13.º Se tem algumas ermidas, e de que santos, e se estão dentro, ou fora do lugar, e a quem pertencem?
14.º Se acode a elas romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes?
15.º Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem em maior abundância?
16.º Se tem juiz ordinário, etc., camara, ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra, e qual é esta?
17.º Se é couto, cabeça de concelho, honra, ou behetria?
18.º Se ha memoria de que florecessem, ou dela saissem, alguns homens insignes por virtudes, letras, ou armas?
19.º Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, se é franca ou cativa?
20.º Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte; e, se o não tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra onde ele chega?
21.º Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do reino?
22.º Se tem algum privilégio, antiguidades, ou outras causas dignas de memória?
23.º Se ha na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas tem alguma especial qualidade?
24.º Se for porto de mar, descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?
25.º Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação. Se ha nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente?
26.º Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em que, e se está reparado?
27.º E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório.
II - O que se procura saber dessa serra é o seguinte:
1.º Como se chama?
2.º Quantas léguas tem de comprimento, e quantas de largura; onde principia, e ande acaba?
3.º Os nomes dos principais braços dela?
4.º Que rios nascem dentro do seu sitio, e algumas propriedades mais notáveis deles; as partes para onde correm, e onde fenecem?
5.º Que vilas e lugares estão assim na serra, como ao longo dela?
6.º Se ha no seu distrito algumas fontes de propriedades raras?
7.º Se ha na serra minas de metais, ou canteiras de pedra, ou de outros materiais de estimação?
8.º De que plantas, ou ervas medicinais é a serra povoada, e se se cultiva em algumas partes, e de que géneros de frutos é mais abundante?
9.º Se ha na serra alguns mosteiros, igrejas de romagem, ou imagens milagrosas?
10.º A qualidade do seu temperamento?
11.º Se ha nela criações de gados, ou de outros animais, ou caça?
12.º Se tem alguma lagoa, ou fojos notaveis?
13.º E tudo o mais que houver digno de memória.
III - O que se procura saber do rio dessa terra é o seguinte:
1.º Como se chama, assim o rio, como o sitio onde nasce?
2.º Se nasce logo caudaloso, e se corre todo o ano?
3.º Que outros rios entram nele, e em que sitio?
4.º Se é navegável, e de que embarcações é capaz?
5.º Se é de curso arrebatado, ou quieto, em toda a sua distância, ou em alguma parte dela?
6.º Se corre de norte a sul, se de sul a norte, se de poente a nascente, se de nascente a poente?
7.º Se cria peixes, e de que espécie são os que traz em maior abundância?
8.º Se ha nele pescarias, e em que tempo do ano?
9.º Se as pescarias são livres, ou de algum senhor particular, em todo o rio, ou em alguma parte dele?
10.º Se se cultivam as suas margens, e se tem muito arvoredo, de souto, ou silvestre?
11.º Se tem alguma virtude particular as suas águas?
12.º Se conserva sempre o mesmo nome, ou o começa a ter diferente em algumas partes, e como se chamam estas, ou se ha memória de que em outro tempo tivesse outro nome?
13.º Se morre no mar, ou em outro rio, e como se chama este, e o sitio em que entra nele?
14.º Se tem alguma cachoeira, represa, levada, ou açudes que lhe embaracem o ser navegável?
15.º Se tem pontes de cantaria, ou de pau, quantas, e em que sitio?
16.º Se tem moinhos, lagares de azeite, pisões, noras, ou outro algum engenho?
17.º Se em algum tempo, ou no presente, se tirou ouro das suas areias?
18.º Se os povos usam livremente das suas águas para a cultura dos campos, ou com alguma pensão?
19.º Quantas léguas tem o rio, e as povoações por onde passa. desde o seu nascimento até onde acaba?
20.º E qualquer outra causa notável que não vá neste interrogatório.
(extraído de Pedro A. de Azevedo, «O Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso», in O Arqueólogo Português, 1.ª série, vol. I, Lisboa, 1895, pp. 267-271)
I - O que se procura saber dessa terra é o seguinte:
(Venha tudo escrito em letra legível e sem breves)
1.º Em que província fica, a que bispado, comarca, termo e freguesia pertence?
2.º Se é d' el-rei, ou de donatário, e quem o é ao presente?
3.º Quantos vizinhos tem [e o número das pessoas]?
4.º Se está situada em campina, vale, ou monte, e que povoações se descobrem dela, e quanto dista?
5.º Se tem termo seu, que lugares, ou aldeias comprehende, como se chamam, e quantos vizinhos tem?
6.º Se a Paróquia está fora do lugar, ou dentro dele, e quantos lugares, ou aldeias tem a freguesia, todos pelos seus nomes?
7.º Qual é o seu orago, quantos altares tem, e de que santos, quantas naves tem; se tem Irmandades, quantas, e de que santos?
8.º Se o Pároco é cura, vigário, ou reitor, ou prior, ou abade, e de que apresentação é, e que renda tem?
9.º Se tem beneficiados, quantos, e que renda tem, e quem os apresenta?
10.º Se tem conventos, e de que religiosos, ou religiosas, e quem são os seus padroeiros?
11.º Se tem hospital quem o administra, e que renda tem?
12.º Se tem casa de Misericórdia, e qual foi a sua origem, e que renda tem; e o que houver notável em qualquer destas cousas?
13.º Se tem algumas ermidas, e de que santos, e se estão dentro, ou fora do lugar, e a quem pertencem?
14.º Se acode a elas romagem, sempre, ou em alguns dias do ano, e quais são estes?
15.º Quais são os frutos da terra que os moradores recolhem em maior abundância?
16.º Se tem juiz ordinário, etc., camara, ou se está sujeita ao governo das justiças de outra terra, e qual é esta?
17.º Se é couto, cabeça de concelho, honra, ou behetria?
18.º Se ha memoria de que florecessem, ou dela saissem, alguns homens insignes por virtudes, letras, ou armas?
19.º Se tem feira, e em que dias, e quantos dura, se é franca ou cativa?
20.º Se tem correio, e em que dias da semana chega, e parte; e, se o não tem, de que correio se serve, e quanto dista a terra onde ele chega?
21.º Quanto dista da cidade capital do bispado, e quanto de Lisboa, capital do reino?
22.º Se tem algum privilégio, antiguidades, ou outras causas dignas de memória?
23.º Se ha na terra, ou perto dela alguma fonte, ou lagoa célebre, e se as suas águas tem alguma especial qualidade?
24.º Se for porto de mar, descreva-se o sítio que tem por arte ou por natureza, as embarcações que o frequentam e que pode admitir?
25.º Se a terra for murada, diga-se a qualidade de seus muros; se for praça de armas, descreva-se a sua fortificação. Se ha nela, ou no seu distrito algum castelo, ou torre antiga, e em que estado se acha ao presente?
26.º Se padeceu alguma ruína no terramoto de 1755, e em que, e se está reparado?
27.º E tudo o mais que houver digno de memória, de que não faça menção o presente interrogatório.
II - O que se procura saber dessa serra é o seguinte:
1.º Como se chama?
2.º Quantas léguas tem de comprimento, e quantas de largura; onde principia, e ande acaba?
3.º Os nomes dos principais braços dela?
4.º Que rios nascem dentro do seu sitio, e algumas propriedades mais notáveis deles; as partes para onde correm, e onde fenecem?
5.º Que vilas e lugares estão assim na serra, como ao longo dela?
6.º Se ha no seu distrito algumas fontes de propriedades raras?
7.º Se ha na serra minas de metais, ou canteiras de pedra, ou de outros materiais de estimação?
8.º De que plantas, ou ervas medicinais é a serra povoada, e se se cultiva em algumas partes, e de que géneros de frutos é mais abundante?
9.º Se ha na serra alguns mosteiros, igrejas de romagem, ou imagens milagrosas?
10.º A qualidade do seu temperamento?
11.º Se ha nela criações de gados, ou de outros animais, ou caça?
12.º Se tem alguma lagoa, ou fojos notaveis?
13.º E tudo o mais que houver digno de memória.
III - O que se procura saber do rio dessa terra é o seguinte:
1.º Como se chama, assim o rio, como o sitio onde nasce?
2.º Se nasce logo caudaloso, e se corre todo o ano?
3.º Que outros rios entram nele, e em que sitio?
4.º Se é navegável, e de que embarcações é capaz?
5.º Se é de curso arrebatado, ou quieto, em toda a sua distância, ou em alguma parte dela?
6.º Se corre de norte a sul, se de sul a norte, se de poente a nascente, se de nascente a poente?
7.º Se cria peixes, e de que espécie são os que traz em maior abundância?
8.º Se ha nele pescarias, e em que tempo do ano?
9.º Se as pescarias são livres, ou de algum senhor particular, em todo o rio, ou em alguma parte dele?
10.º Se se cultivam as suas margens, e se tem muito arvoredo, de souto, ou silvestre?
11.º Se tem alguma virtude particular as suas águas?
12.º Se conserva sempre o mesmo nome, ou o começa a ter diferente em algumas partes, e como se chamam estas, ou se ha memória de que em outro tempo tivesse outro nome?
13.º Se morre no mar, ou em outro rio, e como se chama este, e o sitio em que entra nele?
14.º Se tem alguma cachoeira, represa, levada, ou açudes que lhe embaracem o ser navegável?
15.º Se tem pontes de cantaria, ou de pau, quantas, e em que sitio?
16.º Se tem moinhos, lagares de azeite, pisões, noras, ou outro algum engenho?
17.º Se em algum tempo, ou no presente, se tirou ouro das suas areias?
18.º Se os povos usam livremente das suas águas para a cultura dos campos, ou com alguma pensão?
19.º Quantas léguas tem o rio, e as povoações por onde passa. desde o seu nascimento até onde acaba?
20.º E qualquer outra causa notável que não vá neste interrogatório.
(extraído de Pedro A. de Azevedo, «O Dicionário Geográfico do Padre Luís Cardoso», in O Arqueólogo Português, 1.ª série, vol. I, Lisboa, 1895, pp. 267-271)
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