Laboratório de Ideias G. I. Dinâmicas Imperiais A cidade da Ribeira Grande e o porto grande do Mindelo: Espaços Económicos e Cosmopolitas das ilhas de Cabo Verde Maria Manuel Torrão CH-ULisboa 27 de Maio de 2023 16h00 | Biblioteca Municipal de Portimão Organização Instituto de Cultura Ibero-Atlântica Centro de História da Universidade de Lisboa G. I. Dinâmicas Imperiais Descarregar cartaz |
Estas ilhas estavam geograficamente próximas da região da costa da Guiné, para que os seus moradores pudessem participar no comércio realizado nas margens dos Rios vindos do hinterland africano, mas usufruiriam, ao mesmo tempo, da segurança que a insularidade lhes proporcionava. Assim, as ilhas de Cabo Verde foram, desde o final do século XV até aos inícios do século XVII, um entreposto de mercadorias trocadas entre vários espaços mundiais. Navios, homens, animais, plantas, alimentos, mercadorias mais ou menos valiosas, informações vindas de todo o globo cruzavam-se no espaço cosmopolita da Ribeira Grande, primeira capital portuguesa nos Trópicos.
Os séculos XVII e XVIII, afastando Cabo Verde dos grandes eixos comerciais, obrigaram a uma reestruturação da sua economia alterando a constituição da sociedade. Neste espaço insular operou-se uma “interiorização”, uma viragem para dentro de si próprias que conduziu a uma exploração incessante de produtos locais que permitissem a subsistência de uma população maioritariamente formada por mestiços e forros.
No entanto, no século XIX, as mudanças económicas provocadas pela Revolução Industrial Inglesa, a partir de 1750, promoveram, novamente, que este arquipélago assumisse a um papel importante nos negócios atlânticos. Foi a vez da povoação do Mindelo e do seu Porto Grande, na ilha de São Vicente, se transformassem num novo centro cosmopolita, cheio de ocupações económicas e transações financeiras, de aplicações tecnológicas modernas e local onde circulavam as notícias mais recentes de todo o espaço ultramarino. Os membros da sociedade europeia que aí se estabeleceram espalharam pelo espaço mindelense um “glamour” especial; para que estas transformações se verificassem contribuiu de novo a posição geoestratégica do arquipélago e não qualquer riqueza natural autóctone. A conjuntura que conduziu para a “construção” deste novo espaço cosmopolita na capital de São Vicente, o porquê do mesmo e as suas reais repercussões económicas e financeiras para o arquipélago são alguns dos aspetos sobre os quais se pretende refletir nesta conferência.
Doutorada em História Moderna pela Universidade dos Açores, foi investigadora do Instituto de Investigação Científica Tropical entre 1987 e 2015, onde integrou a equipa luso-caboverdiana que elaborou o Projeto de História Geral de Cabo Verde, um marco de grande importância na historiografia daquele país tropical.
Colaborou, igualmente, em muitos outros projetos de cooperação com a República de Cabo Verde, dado que a história destas ilhas e o seu relacionamento intercontinental e seu papel geo-estratégico no Atlântico foram os seus principais objetos de estudo. As suas investigações debruçam-se sobre vertentes tão distintas como o tráfico de escravos entre Cabo Verde, a costa da Guiné e a América Espanhola, os agentes económicos, nomeadamente, as famílias luso-castelhanas que se movimentam nestes circuitos comerciais, a circulação de cultura material e imaterial através deste espaço, a cartografia histórica do arquipélago bem como temáticas relacionadas com a história ambiental e as expedições científicas às ilhas, em particular a realizada por João da Silva Feijó no final do século XVIII.
A sua produção científica está patente em capítulos de livros sobre a história das ilhas de Cabo Verde, artigos em revistas científicas nacionais e estrangeiras, participou e organizou em variados congressos, seminários internacionais e exposições, coordenou, igualmente, a edição de coletâneas documentais; publica ainda artigos de divulgação sobre a História de Cabo Verde para o público em geral.