O franciscano António do Rosário nasceu em Lisboa, em 1647, viveu nos sertões de Pernambuco desde 1689 e faleceu em Salvador, na Bahia, em 1704. Nos sermões que integram o seu Frutas do Brasil, de 1702, o capuchinho utiliza uma alegoria muito precisa para tratar da sociedade colonial portuguesa instalada na América, um lugar onde, à época, não se viam os reis e as rainhas lusos, mas abundavam ananases e canas. Na obra, o lugar especificamente ocupado por cada estado na monarquia é comparado às sutilezas do sabor, da cor e da textura inigualáveis de diferentes frutas. Ao moralizar a respeito do tratamento despendido aos escravos, entretanto, o franciscano associa duas imagens mais contundentes: o engenho e o juízo final. A alegoria das frutas cede, por um momento, lugar a outro recurso, e o frade, então, passa a moralizar a partir das alegorias da água, do fogo e do sangue. Lida e interrogada a partir do presente, a pregação do capucho permite-nos colocar em debate o tema central desta apresentação: o problema da escravidão na construção de valores morais em língua portuguesa nos séculos XVII e XVIII, um dentre tantos temas abordados na Coleção Memória Atlântica, da qual a reedição crítica de Frutas do Brasil é parte. Mais informações: Descarregar cartaz |